terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Uma história triste sobre uma mulher covarde!

Uma breve história de quando paramos no tempo e não temos coragem. Isso não é sobre superar algo, isso é sobre deixar a tristeza te sucumbir por total.

A dose alta de nicotina sempre atrapalhava a nossa conversa no meio da noite, o meio estava perto do fim e o inicio estava perdido em algum conto barato nos jornais, sentia falta do afago ao adormecer que parecia ter sido esquecido com o tempo. O café da manhã era um grito no vazio, a solidão se fazia presente ao longo do dia, independente de onde eu pudesse estar, eu estava sozinha, podia sentir que o clima nublado e que o clima quente traziam o vento para que ele pudesse debater em meus braços inquietos, em meus cabelos mal comportados, e em meu rosto onde o tempo começa a mostrar que está passando.
Em frente a um espelho enorme em meu quarto, sou capaz de observar a beleza da nudez desgasta e triste de meu corpo e por um instante isso me envergonha, mas logo depois me dou conta que isso é o que eu sou, o que me tornei, o que faz de mim ser o que é, não apenas a parte externa, e sim a interna. Interna da alma, uma alma que aguenta a anos um homem que levanta todos os dias e não a nota, uma alma que um dia pensou ter encontrado o amor e agora observa tudo isso de longe ir embora, se sentindo como um vácuo, uma alma gritando no vazio que está doente de solidão, uma alma que não encontra alimento e está em rumo a um caminho sem volta.
Coloco minhas vestes, uma camisola cor salmão de seda como se estivesse fazendo uma prece demorada, como se pudesse ouvir o cântico triste dos anjos tocando em meu coração, vou até a cozinha, procuro bebida, mas só encontro água, me deito na mesa que fica embaixo da maior árvore de nosso quintal, um sol de 30º banha o dia de hoje. As horas passam, meus pensamentos correm, continuo solitária, fecho os olhos e quando os abro estou deitada do meu lado da cama e o despertador está indicando que mais um dia começa, mais um dia se repete, mais um dia em que estou envelhecendo, solitária e calada, esperando por algo que eu nem sei o que é, esperando e esperando...
Sou covarde o suficiente para continuar aqui nessa mesma vida, nesse mesmo quadrado, espero que tudo chegue a mim, mas é tudo que eu tenho garantido, é tudo que eu consegui construir ao longo da vida, não posso simplesmente renegar as coisas que pude conquistar que foi um bom marido, uma boa vida, uma boa casa, um bom emprego, uma boa aposentadoria, um filho... Um filho que a vida levou de mim tão jovem...
Quando se acorda prestes a mudar o próprio destino tu não fazes cerimônia, tu não chamas a atenção, tu deixas tudo como está naquele lugar. Resolvi escrever uma carta aquela manhã, escrevi uma carta destinada ao meu marido, o homem que dorme ao meu lado a 40 anos.

“Querido, Charles ....
Eu te amo, não sei se é um bom jeito de começar uma carta, então vá se fuder são as palavras mais sinceras que posso lhe oferecer, porque no fim de tudo é o único sentimento que me resta por ti. Dormes e acordas ao meu lado a 40 anos, e a 20 a única coisa que fazes é fumar uma carteira de cigarro e adormecer, não conversamos e todas as minhas tentativas de chamar sua atenção foram como merda descendo pelo vaso sanitário, foram as suas traições, sim eu sempre soube, a sua secretaria é ótima e útil sendo bem paga. Mas não posso deixar de agradecer pelos os outros belos anos que passamos juntos e que você me amou, pelo tempo que você gastou comigo quando nosso filho morreu naquele inverno de agosto de 1992 e tudo que me sobrou foi um coração partido e lágrimas, todo o amor que tu poderias sentir por mim eu vi naquela época, sou grata por tudo.
Está é uma carta de despedida e eu espero do fundo de minha alma que tu consigas passar o terno sozinho, achar a gaveta que o cotonete está que é sempre a primeira da penteadeira no segundo quarto, as meias elas estão em bolsa de crochê do seu lado da cama que consegui terminar semana passada, mas só lembrei hoje, contrate uma empregada não vais dar conta de tudo sozinho. Por favor não se culpe, meu coração ele nunca mais se recuperou desde que nosso pequeno Eduardo se foi, agora espero me juntar a ele em algum lugar do mundo, embora todos os lugares e crenças digam que suicídio te levam direto para um lugar escuro e sombrio onde só se encontra sofrimento, eu tenho fé que poderia vê-lo novamente com os mesmos brilhos nos olhos como antes. Eu te amo meu bem... Até logo!”

                                                   Susan.

Coloquei a carta ao lado dele na cama com uma carteira de Marlboro, fui na janela observar pela última vez minha paisagem favorita, os pássaros cantavam e o vento bagunçava meus cabelos, senti uma leve paz e em seguida me olhei no espelho como uma alma prestes a deixar um corpo que viveu muita coisa, que sofreu o que podia e que agora, simplesmente tinha perdido as forças de continuar. Deitei-me do meu lado na cama, olhei para o ventilador no teto e coloquei guela abaixo aqueles frascos de veneno. Senti meu sangue queimando por dentro, minha vista embaçando e o ar fugindo de mim, estava aceitando a morte, mas um desespero tomou conta de mim quando a sensação de sufocamento começou a aparecer, não sabia quanto tempo aquilo iria durar, só queria que acabasse logo. Antes de fechar meus olhos para sempre pude ver meu amado Charlie abrir a porta do quarto com um sorriso que mudou em 2 segundos quando ele viu o frasco de veneno em minhas mãos, correu em minha direção e antes que eu pudesse ouvi-lo gritar, tudo se acabou...


Karen Caroline

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